Ouço uma voz que fala, mas não parece ser eu.
Olho a peça que falta, mas ela não se encaixa.
Sinto no corpo um gozo que não é meu.
Na boca um gosto que não me apetece.
Essa não sou eu.
Esse sorriso não é meu, porque não tenho a mínima vontade de sorrir.
Aquelas lágrimas são minhas, mas parecem estar em outra pessoa.
Fecho meus olhos e me busco, me caço... Não me encontro! Me desespero.
Me perdi de mim mesma.
Falo. Esperando que a voz que eu ouça seja a minha, mas não é.
Tento entender onde foi que me perdi, quando foi que deixei de ser eu e me tornei essa estranha que sorri pra esconder a dor.
Onde eu estava que não me vi indo embora?
Mas se bem que mesmo que eu me visse indo embora, sou uma menina tão caprichosa e cheia de vontades que não faria diferença.
Eu iria embora de qualquer maneira.
Apesar de não saber quando fui embora, sei o porque. Cansaço.
Estava cansada de mim mesma, de estar sempre em um extremo. Numa hora tão alto a ponto de tocar as nuvens noutra tão baixo a ponto de não ver o céu.
Estava cansada de ser hora gelada como granizo noutra quente como lava.
Me pergunto se um dia irei me reencontrar. E o que será de mim nesse reencontro.
Me pergunto se quero me reencontrar.